sábado, 22 de janeiro de 2011

O segredo ou A Confissão

 A peça, bem,  eu nem sei se se chama O Segredo ou se tem outro nome. Acho que é A Confissão.Não fiquei atenta. Aliás, não dá para prestar atenção na peça. No final, eu perguntei a minha acompanhante, afinal, qual era o segredo, ou a confissão, e ela também não sabia. Arriscou uma resposta psicológica, meio como que se desculpasse por também ter pensado em outra coisa durante todo o espetáculo.
  Vamos lá. O texto. O dramaturgo, de quem eu também não sei o nome, estava estreando no  seu primeiro trabalho de dramaturgia. Tratava-se de uma Mostra de trabalhos recém criados, sob a batuta do mestre Chico de Assis. Uma coisa que o Chico sabe fazer é ensinar a escrever a estrutura do texto dramatúrgico. Mas uma coisa é ter a estrutura certa, outra é escrever uma peça de arte.
  O jovem dramaturgo trabalhou uma estrutura textual muito bem tecida. É um bom aluno. Soube retomar o tema principal da sua pequena peça durante o espetáculo, de modo que o público sabia minimamente do que a peça tratava: de uma confissão ou de um segredo. O texto também continha uma pequena história. É aí que reside o problema. O público só sabe que houve um segredo, e sangue, e uma árvore. Porque faltaram o empenho em mostrar no texto qual é mesmo o problema, e o esforço do ator por deixar isso claro.
  A peça é um monólogo. Monólogos são difíceis de se fazer. Exigem uma partitura vocal e corporal que chamem a atenção do observador, e infelizmente, o ator, muito jovem para a empreitada, só "deu o texto", como costumamos dizer. Mas o texto que ele deu foi bem dado, isto é, com uma altura e articulação vocais dignas, embora faltasse o valor que cada palavra tem. Não dar esse valor para as palavras  equivale a tirar a atenção do público pros próprios problemas do cotidiano, e aí não há mais teatro, já que a mente do público não está mais ligada ao lugar de onde se vê a peça.
  A iluminação foi competente, mas por vezes deixava o ator no escuro. E isso pressupõe que o iluminador ou estava fazendo a luz naquele momento, ou perdeu o ritmo do texto.
  A direção mostrava segurança, afinal, foi feita pelo próprio Chico. As marcas eram exatamente o que o texto pedia, e neste sentido, o trabalho do diretor cumpriu a tarefa de comunicar algo da escritura. Seria bom se o Chico também ensinasse a dirigir, além de escrever.
  Porém, a peça não naufragou. Embora as pessoas não saibam até hoje o que era mesmo o sangue e a árvore, e a cabeça de quem tinha sido cortada?-Se é que foi cortada-, e por que o narrador da história estaria num asilo psiquiátrico? valeu a peça pelo resultado de um processo de dramaturgia e do processo de um ator que ainda está descobrindo sua arte. Alguém tem de preparar os futuros artistas, e espetáculos como esse ensinam a eles como devem agir no próximo trabalho. Minha primeira peça foi ruim. Depois, eu obtive elogios em toda mídia impressa, dos críticos mais exigentes do teatro. É por que a gente aprende com o tempo e com aquilo que falam pra nós.
 Mais sorte na próxima, garotos.

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