terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Um vídeo muito sério.

 Falar do cotidiano. Conhecer a vida de pessoas diferentes de você, e perder o preconceito que se tem sobre elas. Falar de simplicidade, com ritmo. Com imagem e som. Tudo isso  garante uma obra de arte?
 Vamos falar do vídeo A alucinante vida de Rolha Jackson , de Maicknuclear de los Santos Angeles. Maicknuclear é um artista falando de seu tempo, e de temas de que a gente não costuma saber. Quando um filme comercial fala das pessoas que vivem na marginalidade, não se detém nelas mesmas, mas na história na qual estão envolvidas. Maicknuclear  mostra o que pode viver um  menino passador de droga, quando está fora de seu trabalho. Que tipo de vida pode ele levar, quando se distrai.
 Maicknuclear apresenta o que já é conhecido. Um garoto passador de droga. Mas ele mostra seu personagem, conhecido, sob a forma do desconhecido. Essa técnica provoca o espectador, desperta o interesse. O leitor do vídeo deseja ouvir o resto da conversa do garoto, porque ele tem interesse de saber o que faz um passador de droga  nas horas vagas. Se fosse só uma espectativa, uma proposta de roteiro, o vídeo não vingaria. Mas ele mostra uma situação inusitada, uma narração que o observador não espera. Apresentar um roteiro não é ter uma idéia genial, e não saber como a desenvolver. Apresentar um roteiro é fazer o observador estranhar. É saber provocar. É isso que o leitor quer. E é isso que Maicknuclear faz.
  Então, Maicknuclear tem uma artimanha. Uma malandragem, para iludir o leitor durante a apreciação das  imagens, e é isso que prende a atenção.Ela está na narrativa e no plano da filmagem. Ele mostra a boca do personagem, e,  por vezes, mãos. E resolve o problema estético de um marginal narrando suas aventuras. É isso que interessa o leitor. Há uns flashes na fala do menino; ele pergunta se "está suado", isto é, se a polícia está por ali. Esse é um ardil para que o observador não perca de vista que o garoto é um passador, um marginal, que está realizando seu trabalho, enquanto conta sua história engraçada.
  O que é a moral? A moral, segundo Sartre, é o que todo mundo escolheria. Ora, nem eu nem você escolheríamos uma atividade tão perigosa, mas no vídeo de Maicknuclear, a moral não reside em você ou eu escolhermos ou não aquela vida. Ele transcende essa questão, a fim de voltar os sentidos do observador para a moral durante a fala do narrador. Quer dizer, se eu ou você estivéssemos numa atividade comercial deste tipo, levaríamos um tipo de vida que não prescindiria de vivermos parte dela nos divertindo, e a moral de Maicknuclear é essa: todo mundo é humano, todo mundo se diverte, todo mundo passa o tempo de alguma forma prazerosa. Essa saída é boa, porque o filme não perde a função moral que toda obra de arte deve ter. Ele nos faz quebrar o preconceito, porque o menino passador de droga é igual a todos os outros garotos, e sua forma de se divertir, embora estranha (e é nisso que reside a aventura),  é interessante e simples, como a vida deve ser.
 Essa obra é um vídeo de entretenimento, mas não nos deixemos levar pelo ar inocente com que é apresentado. Maicknuclear nos diverte ensinando, e ensinar a conviver com as diferenças morais e suas escolhas é coisa muito séria.

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